quinta-feira, 23 de outubro de 2008

poderia ser minha historia


De Olhos Fechados Sentado ali em frente ao seu congá, o velho Pai de Santorelembra com surpreendente nitidez a sua infância e seu primeiro contato coma espiritualidade. Nitidamente ele se vê na tenra infância a brincar sozinho noamplo quintal da casa de seus pais. Lembra-se que alguma coisa o fez olharpara as nuvens e que diante dele uma estranha imagem se formou; um velhosentado ao redor de uma fogueira e um menino a ouvir-lhe as histórias, De alguma forma, o menino ao ver aquela cena, sabia que setratava dele mesmo. O tempo passou e a cena jamais foi esquecida e também jamaisrevelada, o acompanha em sonhos e lembranças. Cresce e acaba por se tornarum médium umbandista. Aos poucos vai conhecendo seus guias que vão tomando seu corponas diversas "giras de desenvolvimento". Primeiro o Caboclo, que lhe parecemuito grande e forte; depois os demais até que ao completar 18 anos, o seuExú também recebe permissão para incorporar. Já não é mais médium de gira. A bem da verdade, ocupa o cargode Pai Pequeno de Terreiro. Percebe que não tivera uma adolescência com a damaioria dos jovens que lhe cercam na escola. Não vai a bailes, festas ....Dedica-se com uma curiosidade e um amor cada vez maior à prática dacaridade. Os anos passam e ele acaba por abrir seu próprio terreiro.Inúmeras pessoas procuram seus guias e recebem sempre um lenitivo, umapalavra de consolo, uma esperança. Foram tantos os pedidos e os trabalhos realizados que jáperdera a conta. Viu inúmeras pessoas que declaravam amor eterno pelaUmbanda se afastarem, criticando o que ontem lhes era sagrado, porque algunsde seus pedidos, não haviam sido alcançados na plenitude desejada. Presenciou pessoas que vindas de outras religiões, encontravama paz dentro do terreiro. Este, era mantido a duras penas já que nadacobrava pelos trabalhos realizados. "Daí de graça, o que de graçarecebestes". Solteiro, permanecia até hoje pois embora tivesse muitasmulheres que lhe foram caras, nenhuma delas suportou ficar a seu lado. Paraele, a vida sacerdotal se impunha a qualquer outro tipo de relacionamento.Mesmo assim, amava todas aquelas que lhe fizeram companhia em sua jornadaterrena. Brincava o velho Pai de Santo quando lhe perguntavam se eracasado.... Respondia bem humorado que se casara muito cedo, ainda menino. Acuriosidade dos interlocutores quanto ao nome de sua mulher era satisfeitacom uma só palavra: Umbanda. Este era nome de sua mulher. Com o passar do tempo a idade foi chegando. Muitos de seusFilhos de Fé seguiram seus destinos, vindo eles próprios, a abrir suas casasde caridade. O peso da idade não o impede de receber suas entidades e aindaecoa pelo velho e querido terreiro o brado de seu Caboclo; o cachimbo doPreto Velho ainda perfuma o ambiente, a gargalhada do Exú ainda impressiona,a alegria do Erê emociona a ele e a todos... Enfim, sente-se útil aotrabalhar. Hoje não tem gira, o terreiro está limpo, as velas estãoacessas e tudo parece normal. Resolve adentrar ao terreiro para passar otempo. Perdera a noção da horas. Apura os ouvidos e sente passos ao seu redor. Percebe quealguém puxa os pontos e o atabaque toca. Ele está de frente para o congá. Ocheiro da defumação invade suas narinas.... Seus olhos se enchem de lágrimasna mesma proporção que seu coração se enche de alegria. Estranhamente nãosente coragem ou vontade de olhar para traz.... apenas canta junto ospontos. Fixa as imagens do altar, fecha os olhos e ainda assim vênitidamente o congá. Parece que percebe o movimento do terreiro aumentar evira de costas para o congá e a cena o surpreende: Vê Caboclos, boiadeiros,pretos velhos, marujos, baianos, erês e toda uma gama de Guias. Até os Exúse Pombas Giras estão ali na porteira. Se dá conta que os vê como são - nãoestão incorporados, todos lhe sorriem amavelmente. Dentre tantos Guias percebe aqueles que incorporam nele desdecriança. Tenta bater cabeça em homenagem a eles, mas é impedido. O Caboclo,seu Guia de frente se adianta e lhe abraça, brada seu grito guerreiro, sendoacompanhado pelos demais.* O Velho Pai de Santo não agüenta e chora emocionado.* As lágrimas lhe turvam a vista. Ele fecha seus olhos e ao abri-los, todosos Guias permanecem em seus lugares, porém calados....* Nota uma luz brilhante em sua direção. Iansã e Omulú se aproximam. SeuCaboclo os saúda e é correspondido.* A luz o envolve. Já não se sente velho, na verdade, sente-se jovem comonunca, seu corpo está leve e levita em direção à luz. Todos os Guias lhe fazem reverência.* O terreiro vai ficando longe, envolto em luz..... Sorri alegre. Missãocumprida.* No dia seguinte encontram seu corpo aos pés do congá. Parece que sorri....

Um comentário:

Kiron disse...

Poderá ser a história de qq ser humano q tem a consciência limpa e sabe q se esforçou ao máximo para fazer a caridade e crescer espiritualmente. Pode ser o pai de santo como qq um dos filhos. A espiritualidade com certeza n escolhe pela hierarquia q criamos.
N estou criticando a organização, longe disso!!!!! Para termos uma casa firme, é necessário sermos organizados, n é verdade?
Esta recepção maravilhosa dos orixás e das nossas entidades só poderá ser possível se entregarmos de verdade os nossos corações na dura e ao mesmo tempo, compensadora tarefa de receber nossos amados espíritos ou auxiliar e cuidar dos espíritos que descem em nossos irmãos. Salve a Umbanda!!!!